Era muito complicado curtir rock – Diário do Grande ABC

Curtir rock dava trabalho, mas sempre valeu a pena. Era preciso garimpar para encontrar bandas e álbuns novos. “Os discos demoravam para chegar aqui. Várias vezes não achava o que queria na loja. Importar era difícil e caro”, lembra Dr. Rock, figura comum nos eventos na região.

O guitarrista Luiz Carlini recorda o trampo para sair da Capital e ensaiar em Osasco. Tomava ônibus com amigos levando guitarras e amplificadores. Por causa do tamanho dos equipamentos, o motorista não queria mais parar o busão. O jeito era se esconder atrás de uma banca de jornal. Um dava o sinal, e era só o veículo encostar para a turma entrar com a parafernália.

“A gente tinha orgulho de saber todas as músicas e o nome dos integrantes da banda”, conta Roger Moreira, vocalista do Ultraje a Rigor. Na época, não existiam revistas nem rádios especializadas no Brasil. As novidades eram transmitidas pelo boca a boca. Um ia à casa do outro com sacola de LPs para escutá-los.

Roger teve de batalhar para convencer o pai de que música é coisa séria. Bem diferente do que ocorre hoje com Lucas Richieri, 17 anos, de São Bernardo. Acostumado a ouvir rock progressivo desde a infância por influência dos pais, sempre recebeu incentivo para estudar música. “Sei que era bem mais demorado fazer um álbum. Mas como não tinham recursos, o trabalho era mais elaborado.”

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Primeiro megashow nos anos 1970 – Diário do Grande ABC

Mais dificuldades para bandas menores

E se os shows no Brasil dos rockstars não tinham estrutura, organização e faltavam equipamentos, imagine as dificuldades enfrentadas pelas bandas iniciantes e amadoras. Roger Moreira, do Ultraje a Rigor, conta que no começo da carreira, início da década de 1980, a banda passava por vários barzinhos nos quais perguntava se podia tocar. O lugar que abria espaço ganhava show da turma com covers, principalmente dos Beatles. A aparelhagem que usava era alugada – muitos grupos nem tinham acesso a isso. E rolava cachê? Nada. “O dinheiro era o de menos.”

Quando conseguiam agendar show, faziam grafitagem nos muros da vizinhança para divulgar a banda. O que os caras queriam de verdade era fazer música e tocar por prazer. E, apesar de no início a encararem como hobby, Roger e os amigos sempre levaram a arte muito a sério. “A gente achava que precisava ter dedicação. Tinha de fazer direito”, afirma. Na época, além de botecos, as bandas independentes se apresentavam em pequenos teatros e clubes, o que é raro hoje.

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