ERASMO E ULTRAJE A RIGOR ANIMAM SEM FAZER HISTÓRIA
POR LEONARDO LICHOTE
Ultraje a Rigor e Erasmo Carlos se reuniram no palco do festival que comemora trinta anos de Rock in Rio – Barbara Lopes / Agência O GloboO encontro de Erasmo Carlos com Ultraje a Rigor no Palco Sunset terminou com a plateia pedindo bis, depois de uma série ininterrupta de hits do repertório de ambos. Mas – sobretudo pelo som sem definição, embolado, que prejudicou a banda e a voz do Tremendão – o encontro ficou no meio do caminho da explosão de “rock de raiz” (como definiu Roger na abertura do show) que se anunciava e que se mostrou quando Erasmo abriu a apresentação cantando ao lado do Ultraje “Terror dos namorados” e “Fama de mau” (mesmo ali, porém, já havia problemas no som).Quando o Tremendão deixou o palco para o Ultraje, Roger, assumidamente anti-PT, começou a dar contornos políticos à apresentação – trazendo para o presente músicas que originalmente se referiam a outros momentos históricos. Vestindo uma camisa com o verso “A gente não sabemos escolher presidente”, ele se dirigiu à plateia:— Trinta anos depois (no período de redemocratização do Brasil, quando não havia eleições diretas para presidente), vamos ver se dessa vez a gente aprende – e começou “Inútil”, seguida de “Filha da puta”. — Os caras cagam, a gente paga.Erasmo e Ultraje compartilham dos mesmos mestres (fundadores do rock como Chuck Berry e Beach Boys) e do mesmo tipo de humor de sagacidade adolescente. “Eu me amo”, “Marylou” e “Ciúme” poderiam ser músicas de Erasmo, como se nota quando se vê as duas bandas tocando juntas, assim como “Festa de arromba”. Algo que potencializaria o encontro se não fosse pelo som constantemente ruim, que tirou força da ótima e pesada interpretação do Tremendão para “Quero que vá tudo pro inferno” e do clássico “Eu sou terrível” – e do show como um todo, em muitos momentos carente de vibração. Mesmo o encerramento com todos juntos em “Nós vamos invadir sua praia”, grande canção do Ultraje (e que talvez seja a mais agudamente contemporânea do seu repertório), pareceu uma sombra do que poderia ter sido. O suficiente para empolgar a plateia, mas sem o impacto de encontro histórico.
Cotação: Regular
Source: Críticas 26/09: O arrastão de Rihanna e a realeza de Lulu – Jornal O Globo