Um dos maiores clássicos do rock brasileiro, a música “Inútil”, do grupo Ultraje A Rigor, é a síntese de um período da história tupiniquim. Na sequência da década de 1970, quando a propaganda pintou um Brasil forte e soberano, o período seguinte, os anos 1980, foi o ápice do que, lá em 1950, o escritor Nelson Rodrigues chamou de ‘síndrome de vira-lata’. Roger Moreira, autor de ‘Inútil’, conta que, enquanto se banhava na Califórnia – morou em São Francisco no final dos anos 1970 –, começou a cantarolar “A gente não sabemos…”, e por aí se formou a letra.
‘Inútil’ enumera os erros mais comuns dos brasileiros: “a gente não sabemos escolher presidente”, “a gente não sabemos tomar conta da gente”, “a gente não sabemos nem escovar os dentes”, “tem gringo pensando que nóis é indigente”. A opção pelo erro de português é evidente licença poética para determinar as péssimas condições da educação em território nacional, do ensino básico ao Ensino Superior. Algo que só grandes compositores têm a capacidade de criar. Caetano Veloso, certa vez, disse que tentou captar o clima do Brasil em ‘Podres poderes’, mas ele próprio consentiu que a sua música ficou “bem mais fraquinha” do que “Inútil”. E ficou mesmo.
