Trilha das Diretas teve Ultraje, Chico, Caetano e Milton – 25/02/2023 – Ilustríssima – Folha

Roger Moreira, do Ultraje a Rigor, no segundo dia da segunda edição do festival SWU (Starts With You) Music and Arts Festival, em Paulínia, em 2011 – Zanone Fraissat/Folhapress

Como canções de Ultraje, Caetano, Chico e Milton deram o tom das Diretas

Músicas de variados estilos e artistas viraram hinos do movimento que tomou as ruas do país

Oscar Pilagallo

Jornalista, é autor de “História da Imprensa Paulista”, entre outros livros. Lança agora “O Girassol que nos Tinge: Uma história das Diretas Já, o Maior Movimento Popular do Brasil” (ed. Fósforo), sobre os 40 anos das Diretas

[RESUMO] No texto a seguir, adaptado de capítulo do livro “O Girassol que nos Tinge: Uma História das Diretas Já, o Maior Movimento Popular do Brasil”, o jornalista Oscar Pilagallo conta como uma lista eclética e improvável de canções, do rock à MPB tradicional, embalaram as multidões que iam às ruas pela redemocratização do país.

Num dia qualquer de 1982 —entre a surpreendente derrota da seleção brasileira na Copa da Espanha, em 5 de julho, e a auspiciosa primeira eleição direta para governadores em mais de 15 anos, em 15 de novembro—, Roger Moreira tomou uma chuveirada que mudaria sua vida e emprestaria irreverência à trilha sonora da campanha das Diretas. Cantarolando na ducha, acabou entoando, por uma associação sonora qualquer, a palavra “inútil”, que ficou reverberando em sua cabeça até se transformar no refrão “a gente somos inútil”.

Nascido em família da classe média paulistana residente na chique região dos Jardins, Roger estava distante do perfil dos jovens engajados que militavam no então ressurgido movimento. Adolescente, a transgressão não ia além dos sapos que, apanhados na fazenda dos pais, soltava nas aulas. Em vez de contestação juvenil, algazarra inconsequente. Tinha largado o vício do fliperama, mas ainda gostava de entrar pela madrugada brincando de videogame ou folheando gibis, como “Pato Donald”. “Eu não era muito politizado, mal sabia o que era esquerda e direita”, lembraria quatro décadas mais tarde, quando já estava alinhado à direita, inclusive apoiando o presidente Jair Bolsonaro, de extrema direita. E, no entanto, o guitarrista alienado de 1983 iria capturar o desejo coletivo, mas ainda não verbalizado nas ruas, de deixar para trás a ditadura. Vazada em críticas ao governo e à sociedade, com ironias sublinhadas pela concordância verbal torta, a letra de “Inútil” passeia por mazelas brasileiras. Há menções à política industrial (“a gente faz trilho e não tem trem pra botar”), ao descuido social (“a gente faz filho e não consegue criar”) e à censura (“a gente escreve peça e não consegue encenar”). Roger olha também para o próprio umbigo (“a gente faz música e não consegue gravar”) e reflete o desapontamento nacional com a Copa perdida pelo futebol-arte (“a gente joga bola e não consegue ganhar”). Foi o verso de abertura, porém, que catapultou a música ao cenário político nacional: “A gente não sabemos escolher presidente”. Era um grito que expunha frustrações e sacudia consciências, mexendo com os brios de quem, talvez vestindo a carapuça, se acomodara à impotência política. A parabólica de Roger estava voltada para o lugar certo. “Inútil” teve a primeira audição pública em abril de 1983, pouco mais de um mês depois de a emenda Dante de Oliveira ter obtido o número necessário de assinaturas para ser apreciada pelo Congresso. A então desconhecida banda Ultraje a Rigor tocou-a no Teatro Lira Paulistana, um dos endereços mais prestigiados da cena musical de vanguarda dos anos 1980 e que decidira abrir espaço para novas bandas no projeto Boca no Trombone. Gravada quase em seguida em um compacto simples, teria que aguardar por longos meses a liberação da censura. A provocação juvenil parecia incomodar os militares, como um sapo jogado na caserna. Antes de obter a autorização de Brasília, no entanto, a música chegaria aos palanques da campanha das Diretas por vias informais. Tudo começa quando André Midani, presidente da gravadora WEA, resolveu distribuir para amigos fitas cassete com a gravação inédita. Uma delas cai nas mãos do publicitário Washington Olivetto, o criador da Democracia Corintiana, que a envia a Osmar Santos.

O radialista e apresentador toca “Inútil” no seu programa na extinta rádio Excelsior, o “Balancê”, que fazia sucesso entremeando música e conversa sobre política e futebol. Na sequência, procura Roger e lhe pede autorização para reproduzi-la no sistema de som do primeiro dos grandes comícios das diretas, em 12 de janeiro de 1984, na Boca Maldita, em Curitiba. Seria a estreia de Osmar Santos como mestre de cerimônias da campanha e de “Inútil” como um de seus hinos. No palanque, Ulysses Guimarães se arrisca a cantarolar um trechinho.

Finalmente liberada pela censura, que desistiu de exigir mudanças na letra, a música emplacou, tendo contado até com a publicidade que lhe deu Ulysses. Quando Carlos Átila, porta-voz do presidente Figueiredo, declarou em seguida que as manifestações populares só serviam para “desestabilizar a sucessão”, o deputado disse à imprensa que mandaria ao funcionário do Palácio do Planalto uma cópia do single de presente.

“Ele que repita isso, que toque o disco e fique ouvindo.”

Roger estava longe de ser, entre seus pares, uma andorinha solitária no verão das Diretas. Tardio como foi, o rock brasileiro, além de abordar temas típicos da juventude, como a rebeldia e o amor, lançou um olhar crítico sobre a política nacional desde a virada da década.

 

Source: Trilha das Diretas teve Ultraje, Chico, Caetano e Milton – 25/02/2023 – Ilustríssima – Folha

Gazeta Explosiva: Operação gambiarra

Na década de 80, a banda Ultraje a Rigor fez sucesso com a música ‘Inútil’. A canção dizia: “A gente não sabemos escolher presidente” e “A gente faz trilho e não tem trem pra botar”.  O pop/rock era escrachado para escancarar a incompetência governamental. Contudo, a licença poética virou verdade. O governo do PT sempre contou com o beneplácito de parte da imprensa e de uma intelectualidade que insiste em ver uma beleza na suposta simplicidade petista. Então, a incompetência está sendo tratada com certa condescendência.
— Read on gazetaexplosiva.blogspot.com/2023/02/operacao-gambiarra.html

OS INIMIGOS INTERNOS E AS ARMADILHAS DA NÃO-RAIVA

O bolsonarista Roger Moreira, do Ultraje a Rigor, começou a carreira como um dos roqueiros mais divertidos do nosso país. A bolsonarista Regina Duarte era a mocinha meiga e cativante das novelas dos anos 1960 e começo dos anos 1970. A bolsonarista Ana Paula Henkel era uma morena muito atraente, e, através do esporte, pregava um ideal meritocrático não muito diferente de nossos “espíritas”.

Source: OS INIMIGOS INTERNOS E AS ARMADILHAS DA NÃO-RAIVA

Gosto de frisar que “bolsonarista” é uma generalização simplória. Se querem me encaixar em alguma caixinha, é anti-PT.

Rock brasileiro e o rebel money – Rodrigo Lamore – Brasil 247

O que podemos dizer de canções dos anos 80, como por exemplo, as clássicas “Inútil” e “Ciúme”, da banda paulistana Ultraje à Rigor? A primeira era uma crítica ao fracasso das Diretas Já, quando o povo brasileiro foi impedido de votar para candidatos a presidente, com a queda da Ditadura Militar de 64. A letra é uma ironia, dando a entender que os políticos que estavam no poder, na época, não achavam o eleitor tão inteligente o bastante, a ponto de saber votar, portanto, a primeira eleição pra presidente da república foi indireta, ignorando os anseios da população; somos tão inúteis que, sequer conseguimos fazer algo como escolher um candidato. A segunda canção é uma crítica ao comportamento machista e tóxico dos homens, em relação à liberdade das mulheres, mostrando como os homens tratam as mulheres como uma espécie de propriedade, um objeto de poder. A própria letra diz: “Não ser machista e não bancar o possessivo. Ser mais seguro e não ser tão impulsivo”.

Source: Rock brasileiro e o rebel money – Rodrigo Lamore – Brasil 247

O autor, esquerdista, está evidentemente equivocado em sua análise rasa e pouca compreensão dos fatos. Nem tornei-me “fascista” e nem tampouco era comunista. Muito menos compus pensando em dinheiro.