Abaixo, a entrevista completa que cedi à Folha, da qual foram aproveitadas apenas duas frases.
Roger, tudo certo? Tô enviando as perguntas sobre sua dublagem no último Battlefield abaixo, como combinado pelo Twitter.
Algumas delas tocam na polêmica das críticas a seu trabalho, então seria legal ter seu ponto de vista sobre isso. Mas, se você preferir não responder, beleza.
Sei que você deve ter uma agenda corrida, mas, se você conseguir respondê-las até amanhã de manhã, seria ótimo. Meu deadline é nesta sexta mesmo.
- Como rolou o convite para você dublar o Mendonza no Battlefield Hardline?
- O nome dele é Mendoza, não Mendonza. E vc é um “expert” em games, teoricamente. Esse é um dos motivos de minha irritação com a reação de parte dos gamers: normalmente são apenas crianças que jogam videogame, nenhum conhecimento teórico de porra nenhuma mas cheios de razão para julgar aquilo que não conhecem. Voltando à pergunta, não sei como rolou o convite. Meu escritório me ligou perguntando se eu queria fazer e eu disse que sim.
- Você costumava jogar os games da série ou outros jogos de tiro?
- Sim, mas já faz um tempo. Comecei com castelo Wolfenstein e fui até o Call of Duty.
- Como você se identifica com o Nick Mendonza? O que ele tem de parecido contigo?
- Não sei . Somos latinos. Acho que é tudo.
- Essa foi sua primeira experiência de dublagem em games? Como você a avaliaria? Faria outra vez?
- Sim. Acho que fiz muito bem a tarefa. É importante que esses chupetas saibam que fui convidado e fui dirigido, além de avaliado pela própria EA nos EUA, que recebia a gravação e pedia correção de eventuais falhas de interpretação. Eu nunca vi nenhuma imagem enquanto dublava, tínhamos apenas o som e a referência da frase em inglês. Às vezes, nem essa referência. Por vezes a frase tinha que caber no mesmo tempo da frase original, às vezes não. Muitas vezes tínhamos que adivinhar (eu e o diretor) a quê a frase se referia, pois nenhuma anotação ou referência existia. Essas frases também não vinham na ordem certa. De forma que fiz exatamente o que deveria ter feito e muito bem. Faria outra vez, mas não pelo que recebi. Se soubesse que haveria tanto pentelho de 13 anos de idade, cronológica ou mental, me enchendo o saco, teria cobrado mais.
- Sua dublagem não foi bem recebida por alguns jogadores, que te criticaram pela qualidade e por ter “roubado” o lugar de um profissional. Como você responde a essas críticas?
- Cretinice. Tinha gente me malhando antes da dublagem sair. Criticavam por inveja ou por serem “de esquerda”. Esquerda caviar, claro, já que jogos e suas plataformas são produto do bom e velho capitalismo. Quanto a “roubar” o lugar de um profissional, não roubei nada nem fui me oferecer, fui convidado. Por acaso dubladores que cantam estão roubando o lugar de um músico?
- No Twitter, em resposta a um internauta, você disse preferir o jogo em inglês e usou o termo “burro”. Você estava se referindo às pessoas que jogam em português?
- Estava apenas chamando um único cara de burro. Mas a ignorância hoje em dia é tanta que qualquer frase é motivo de polêmica. Claro que nem todo mundo é obrigado a saber inglês. Mas que é uma vantagem é, ainda mais para quem consome produtos importados.
- Por último, você poderia me explicar brevemente a “interação” que você teve com o Guilherme Briggs por causa disso?
- Guilherme Briggs, que eu não sabia quem era, me tuitou dizendo que eu deveria aceitar as críticas. Respondi que não eram críticas e que os consumidores não aceitaram a dublagem “de boa”. Respondi algo como “ah, tá, da mesma forma que estão aceitando a dublagem”. E disse “get a job”, por não saber quem ele era. Deveria ter dito “get a life”. Mas, de qualquer forma, um outro cara entrou na conversa e eu xinguei esse outro. Guilherme então, da mesma maneira canalha que pegam uma frase minha e generalizam para conseguir audiência, retirou o nome desse outro do tuíte antes de retuitar, para parecer que o xingamento era pra ele. Puxa, quanta necessidade de atenção! Quanta insegurança!