As ácidas críticas que Raul Seixas fazia aos roqueiros dos anos oitenta no Brasil

Quando Raul Seixas alfinetou o Ultraje a Rigor, de Roger Moreira

Em agosto de 2014, quando completou 25 anos da morte de Raul, trechos em áudio de entrevista conduzida pelo jornalista André Barbosa em 1988 foram publicadas no Portal ETC. Numa dos trechos, André pergunta a Raul sobre como enxergava o rock no Brasil naquela época.”Raul, me conta uma coisa. Você foi considerado um porta-estandarte do rock. E como é que você vê o rock no Brasil?” pergunta André, citando as raízes do rock no blues, r&b e muito mais, e comentando que nós também temos uma música popular que faz uma fusão de vários ritmos e estilos de diferentes origens. “Eu acho que hoje em dia, apesar de ser um rock mais ingênuo que estes conjuntos estão fazendo aí…”, responde Raul, em seguida amplificando mais os adjetivos: “Bem mais ingênuo, bem mais inocente, inclusive pobre de harmonia, muito mais pobre que já tivemos com a música popular brasileira, com o tropicalismo e tudo, já chegamos numa fase muito mais rica, tá espelhando numa coisa mais pátria”.Daí Raul faz uma citação direta ao Ultraje a Rigor: “Nós somos inúteis, nu com a mão no bolso” diz o cantor, citando frases marcantes de duas músicas da banda para exemplificar sua lógica. “Quer dizer, é isso, é o momento histórico que nós estamos passando, e se há falta de cultura na juventude, há falta de cultura. Os desenhos animados são preguiçosos hoje em dia, fica tudo parado assim, só move a boca, move um olho, tá tudo assim meio desanimado mesmo. “É isso mesmo, uma falta de cultura mesmo, tanto musical quanto de ideias. A juventude está mal informada, foi uma grande conquista de quem quis que acontecesse assim”.O roqueiro e a banda brasileira dos anos oitenta preferidos de Raul Seixas.Um dos poucos roqueiros da safra dos anos oitenta que manteve relação direta com Raul foi Marcelo Nova. “A primeira vez que vi Raul eu tinha uns 10 anos de idade. Raul tinha uns 17″(…) “Nem cheguei a conversar com ele na época, porque o Raul era seis anos mais velho que eu, e nessa fase uma diferença dessas é muito grande”, conta no livro “Marcelo Nova: O Galope do Tempo” de André Barcinski. Então, embora conhecesse Raul desde a infância, eles só se encontraram pela primeira vez em 1984 quando Raul foi convidado para subir ao palco com a banda de Marcelo, o Camisa de Vênus, em um show no Circo Voador do Rio de Janeiro. Os dois passam a manter contato, com o Camisa gravando “Ouro de Tolo” no seu álbum de 1986, “Correndo o Risco”.Em 1985 foi realizada no Brasil a primeira edição do Rock in Rio. Raul não foi convidado. Lucas relata na sua tese que, nas entrevistas da época, Raul fazia questão de desmerecer alguns participantes do evento: “Raul Seixas torce o braço em forma de banana para o rock brasileiro de atual sucesso: ‘Tudo muito bonzinho, não acha? Bem, eu não vou falar do Parachoques do Fracasso, tá certo? Acho tudo uma palhaçada enorme. Não tem sacanagem nenhuma, tudo muito ingênuo. De todos só gosto do Kid Vinil e seu grupo Magazine. Eles sim, são punks vagabundos. Não gosto nem do Barão Vermelho. Me parece que esse pessoal não tem informação. E a culpa não é minha'”.Foto: ReproduçãoKid Vinil também foi citado de forma elogiosa por Raul em uma entrevista famosa que ele deu a Pedro Bial. E existe um pequeno trecho em áudio de uma homenagem cantada ao Kid feita pelo Raul, além de áudios de entrevistas de Raul conduzidas por Kid Vinil.Ao longo dos anos, Raul seria homenageado por dezenas de artistas que passaram pelo festival, até mesmo Bruce Springsteen, que mandou uma releitura de “Sociedade Alternativa” na edição de 2013. E Jotabê Medeiros reproduz no livro “Raul Seixas: Não diga que a canção está perdida” uma fala de Roberto Medina, promotor do Rock in Rio, onde ele se justifica pela ausência de Raul: “A primeira edição do Rock in Rio, em 1985, perdeu o bonde. É claro que, não só no Raul, como em outros nomes, posso não ter pensado. Confesso que não lembro muito bem como elegi o casting nacional. Naquele tempo tinha a Rádio Fluminense – a Maldita – e eu me pautava no aconselhamento deles. Fiz também pesquisa de opinião – o que faço até hoje – me balizando em tribos e estilos diferentes. Tinha ainda a dificuldade para contratar as bandas. Foi muita pressão. É claro que o Raul Seixas deveria estar presente, mas provavelmente eu tenha esquecido outras pessoas também importantes. A segunda edição do Rock in Rio, em 1991, já tinha perdido o bonde, mas cheguei a procurar a viúva de Raul, Kika Seixas, para fazer um selo comemorativo do festival”.

Source: As ácidas críticas que Raul Seixas fazia aos roqueiros dos anos oitenta no Brasil

Que coisa feia, Raul. Parece inveja.

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